“E ent\u00e3o, o que \u00e9 a Mulher Selvagem? Do ponto de vista da psicologia arquet\u00edpica, bem como pela tradi\u00e7\u00e3o das contadoras de hist\u00f3rias, ela \u00e9 a alma feminina. No entanto, ela \u00e9 mais do que isso. Ela \u00e9 a origem do feminino. Ela \u00e9 tudo o que for instintivo, tanto do mundo vis\u00edvel quanto do oculto – ela \u00e9 a base. Cada uma de n\u00f3s recebe uma c\u00e9lula refulgente que cont\u00e9m todos os instintos e conhecimentos necess\u00e1rios para a nossa vida.
\nEla \u00e9 a for\u00e7a da vida-morte-vida; \u00e9 a incubadora. \u00c9 a intui\u00e7\u00e3o, a vid\u00eancia, \u00e9 a que escuta com aten\u00e7\u00e3o e tem o cora\u00e7\u00e3o leal. Ela estimula os humanos a continuarem a ser multil\u00edng\u00fces: fluentes no linguajar dos sonhos, da paix\u00e3o, da poesia. Ela sussurra em sonhos noturnos; ela deixa em seu rastro no terreno da alma da mulher um p\u00ealo grosseiro e pegadas lamacentas. Esses sinais enchem as mulheres de vontade de encontr\u00e1-la, libert\u00e1-la e am\u00e1-la.
\nEla \u00e9 id\u00e9ias, sentimentos, impulsos e recorda\u00e7\u00f5es. Ela ficou perdida e esquecida por muito, muito tempo. Ela \u00e9 a fonte, a luz, a noite, a treva e o amanhecer. Ela \u00e9 o cheiro da lama boa e a perna traseira da raposa. Os p\u00e1ssaros que nos contam segredos pertencem a ela. Ela \u00e9 a voz que diz, “Por aqui, por aqui”.
\nEla \u00e9 quem se enfurece diante da injusti\u00e7a. Ela e a que gira como uma roda enorme. \u00c9 a criadora dos ciclos. \u00c9 \u00e0 procura dela que sa\u00edmos de casa. \u00c9 \u00e0 procura dela que voltamos para casa. Ela \u00e9 a raiz estrumada de todas as mulheres. Ela \u00e9 tudo que nos mant\u00e9m vivas quando achamos que chegamos ao fim. Ela \u00e9 a geradora de acordos e id\u00e9ias pequenas e incipientes. Ela \u00e9 a mente que nos concebe; n\u00f3s somos os seus Pensamentos.”<\/p>\n
Clarissa Pinkola Est\u00e9s (Mulheres que correm com os lobos<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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